A resposta do ex-prefeito de Sousa e pré-candidato a deputado federal Fábio Tyrone às críticas da deputada estadual Dra. Paula (PP) não é apenas politicamente desastrada — ela é sintomática de um padrão recorrente de comportamento que precisa ser denunciado: o uso da retórica machista para deslegitimar mulheres que o enfrentam.
Ao se referir à parlamentar como “descontrolada” e alegar que foi “instigado” no episódio que levou à sua condenação por agressão à ex-namorada, Tyrone se apoia em dois pilares clássicos do discurso machista: o da mulher emocionalmente instável e o da violência justificada por provocação.
Não é preciso ir muito longe para entender o peso dessas declarações. Em abril de 2024, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba confirmou a condenação de Tyrone por lesão corporal contra a advogada Myriam Gadelha. O caso, ocorrido em 2018, envolveu tapas, chutes e um soco no rosto da vítima — agressões que foram comprovadas por laudos periciais e testemunhas. A pena: 1 ano, 4 meses e 7 dias em regime aberto, confirmada também pelo Superior Tribunal de Justiça.
Frente a esse histórico, a tentativa de relativizar o episódio como algo que teria ocorrido após uma “instigação” é ainda mais grave. Essa justificativa não só banaliza a violência doméstica como reforça uma narrativa ultrapassada e perversa: a de que a mulher “provocou”, e por isso apanhou. É um discurso que ecoa o velho “ela pediu”, “ela mereceu” — como se isso fizesse qualquer sentido legal ou moral.
E ao chamar Dra. Paula de “descontrolada”, Tyrone reedita um expediente comum na política brasileira: o de desqualificar adversárias por meio de ataques à sua sanidade, emocionalidade ou comportamento. Uma prática que muitos homens ainda recorrem para tentar silenciar mulheres que os confrontam publicamente.
A disputa política no Sertão paraibano pode — e deve — ser intensa, crítica, acirrada. Mas quando um pré-candidato reage a uma acusação grave com insinuações sobre o “desequilíbrio” de uma deputada e tenta se livrar de sua própria condenação transferindo responsabilidade para a vítima, o debate político desce a ladeira da misoginia institucionalizada.
Esse não é o tipo de comportamento esperado de alguém que almeja representar a Paraíba no Congresso Nacional. Mais do que estratégias eleitorais, o momento exige responsabilidade pública, respeito às vítimas e um compromisso real com os direitos das mulheres. O resto é cortina de fumaça — e das mais nocivas.